O mundo precisa ser solidário com o ebola|aspas00001|, diz microbióloga...
Na opinião da professora da Uniso, o mundo ainda não está preparado para o ebola.
O vírus ebola é letal e o risco de uma epidemia global existe, uma vez que o mundo está conectado e a circulação de pessoas e produtos é rápida e intensa. Mas, de acordo com a bióloga, doutora em microbiologia e professora dos cursos de saúde da Universidade de Sorocaba (Uniso), Marcela Pellegrini Peçanha, há uma questão ética e humanitária que precisa ser discutida urgentemente.
Para ela, é preciso que esta epidemia sirva para que as nações mais desenvolvidas reflitam sobre a necessidade de ser solidário em relação às regiões mais carentes, que não têm alimentos e condições mínimas de sobrevivência.
"Não precisaria vir o ebola para chamar a atenção, mas já que ele veio, vamos olhar isso não apenas com foco na doença", diz. Segundo ela, é preciso ajudar, independentemente do risco de a epidemia chegar até o Brasil ou não. "Acho que está havendo muito medo de que chegue até a gente, mas o mundo é um só, então já chegou", alerta.
Marcela explica que é preciso sim ficar alerta e se preparar, embora a mortalidade na África esteja diretamente ligada à questão social. "Às vezes me questionam: |aspas00001|mas lá eles comem morcego!|aspas00001| E eu devolvo: |aspas00001|E o que vocês acham que eles têm pra comer?|aspas00001| Então, é claro que para uma população que já tem condições de vida inadequadas de saúde, uma doença vai ser muito mais letal do que deveria".
Na opinião da professora, o mundo ainda não está preparado para o ebola. Ela dá como exemplo um caso registrado nos Estados Unidos, em que um paciente veio de um local da África com alta incidência da doença, começou a apresentar os sintomas, procurou uma unidade de saúde e foi mandado para a casa. Tempos depois, faleceu.
No Brasil, segundo a profissional, a estratégia adotada em relação à suspeita do primeiro caso, a partir do momento em que o alerta foi dado, foi correta. "A pessoa passou por triagem, foi isolada, os profissionais estavam com os equipamentos adequados". Mas ela criticou o fato de que, antes disso, o suspeito tenha passado horas esperando o atendimento numa fila, em contato com muitas outras pessoas, o que teria multiplicado o risco de transmissão para outras pessoas.
"Não temos a cura, mas temos trabalhado para formar os melhores profissionais"
Segundo a professora da Uniso, se as instituições brasileiras não conseguem contribuir para encontrar a cura da doença, agem de maneira eficiente em outro lado necessário. "O que nós fazemos, enquanto universidade, é preparar bons profissionais", explica.
Normalmente, aulas que trariam temas como o vírus ebola seriam dadas no fim do período letivo, mas foram trabalhadas antecipadamente e com mais intensidade a partir da evidência que o assunto tomou. Além disso, a visão solidária que o profissional necessita ter é amplamente debatida em sala.
"Nós devemos aproveitar, não só no sentido técnico, tecnológico, do desenvolvimento científico, mas de desenvolvimento humanitário, de evolução enquanto sociedade global", ressalta. Para ela, não teria validade abordar o tema apenas tecnicamente se não fizesse este trabalho de conscientização e aprimoramento do olhar crítico do aluno sobre esta situação.
"Quando você prepara alguém consciente de sua responsabilidade enquanto profissional e ser humano, você o está preparando para atuar em situações extremas como esta. Então, não é apenas ensinar o que fazer, mas sim o porquê de ser feito".
Fonte: G1